quinta-feira, 23 de maio de 2013

Uma breve reflexão: A mulher adúltera.

“Então Jesus pôs-se de pé e perguntou-lhe: ‘Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?’. ‘Ninguém, Senhor’, disse ela. Declarou Jesus: ‘Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado’.”
João 8.10-11

            A passagem é bem conhecida dos evangelhos. Muito provavelmente o subtítulo dessa narrativa em sua Bíblia, seja: “A mulher adúltera”. Jesus havia acabado de passar a noite orando no Monte das Oliveiras. Estava cheio de GRAÇA. Logo “ao amanhecer Ele apareceu novamente no templo”. Como bom rabino e mestre, Marcos ressalta que “todos ficavam maravilhados com seu ensino, porque lhes ensinava como alguém que tem autoridade e não como os mestres da lei” (1.22). No pátio do Templo, “o povo se reuniu ao redor de Jesus, e Ele se assentou para ensiná-lo”, conforme a tradição de sua época. O que o Mestre não esperava era a cena que estava por vir.
            Um grupo de religiosos - escribas e fariseus – arrastaram uma mulher que havia sido pega em flagrante adultério, “fazendo-a ficar de pé no meio de todos” (v.3). A maneira como a trouxeram, sugere o texto – implicitamente – que ela havia caído no chão. Philip Yancey afirma que “segundo o costume, despem-na da cintura para cima como prova de sua vergonha. Aterrorizada, indefesa, publicamente humilhada, a mulher encolhe-se diante de Jesus, com os braços cobrindo os seios desnudos”.
            A intenção dos religiosos era bem clara. Procurar uma acusação contra Jesus (v.6). Esse é o retrato do legalismo quando na verdade o que menos importa é a vida. A vergonha daquela mulher foi utilizada pelos fariseus como joguete de suas intenções sobre do que acusar Jesus. Eles não tinham o direito de fazer isso com ela. Ninguém tem o direito de se valer da vergonha alheia para intenção alguma.
            Estes diziam a Jesus: “Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?” (v.5).
            Algumas reações de Jesus – confesso – me deixam perplexo diante das circunstâncias. Em Lucas 4.29, encontramos o seguinte registro: “E, levantando-se, expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cimo do monte sobre o qual estava edificada, para, de lá, o precipitarem abaixo. Jesus, porém, passando por entre eles, retirou-se”. Mas como assim? A situação era de morte! O desejo dos religiosos era empurrar Jesus abaixo do monte. E Jesus, porém, com a maior tranqüilidade, passa por entre eles e se retira?! Isso mesmo! Agora, diante de um possível apedrejamento, uma cena grotesca – digamos assim – enquanto a lei de Moisés a condenava à morte por apedrejamento para o adultério, a lei romana proibia os judeus de realizar execuções, Jesus, “inclinando-se escrevia na terra com o dedo” (v.6). Surreal! Alguns estudiosos tentaram decifrar – baseados em conjecturas – o que na verdade Jesus poderia estar escrevendo naquele momento. Longe de levantar tal questão – esse não é o objetivo – vamos analisar o seguinte: Talvez algum dia você tenha feito o mesmo que Jesus, com um pequeno galho de uma árvore, tenha desenhado ou escrito seu próprio nome no chão empoeirado ou quem sabe sobre a areia ou terra mesmo; no entanto, logos após o vento que levanta a poeira do chão, alguns minutos a mais e pronto. O que você havia acabado de escrever some com os pequenos grãos arrastados pelo seu pequeno galho, levados pelo vento. Apagado.
Mas os religiosos parecem não entender bem a atitude de Jesus. Eles insistem com a pergunta; eles queriam lhe acusar de alguma forma e não era de escrever no chão que poderiam acusá-lo. Eles precisam das palavras de Jesus. Ponto!
As palavras Jesus penetram na alma do ser humano. Somente Ele como ninguém, consegue descortinar aquilo que nós escondemos no mais íntimo do nosso ser. No caso dos fariseus, as palavras de Jesus desmontam uma hipocrisia gritante. “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a pedra”. (v.7). Observem que Jesus coloca sob a mesma esteira o escândalo sexual daquela mulher com os demais pecados cometidos pelos religiosos. Ao contrário do que poderíamos imaginar, a pergunta de Jesus não é: “Aquele que dentre vós nunca adulterou seja o primeiro que lhe atire a pedra”. Jesus pega no contrapé dos religiosos. Eles não esperavam por uma resposta que refletissem suas próprias transgressões.
“E tornando-se a inclinar-se, continuou a escrever no chão” (v.8)
Jesus parecia estar mesmo bem seguro de suas palavras e do que estava por acontecer. Ao mesmo tempo, podemos também considerar uma resposta um tanto quanto arriscada, já que os fariseus zelavam pela religiosidade aparente, era bem provável que ali algum deles poderia levantar a sua mão e jogar uma pedra na direção daquela mulher, só para não perder a pose. Mas não é isso que acontece. “Mas ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência” (v.9a). A palavra de Jesus trouxe-lhes às suas consciências a condenação dos seus próprios atos. “Foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até os últimos”. Esse é outro ponto do versículo que me chama atenção. Por que os mais anciãos foram os primeiros a se retirar? Talvez a consciência tenha-lhes pesado mais? E se os mais jovens foram os últimos a se retirar, podemos supor que houve resistência da parte de alguns? A verdade é que “ficou só Jesus e a mulher no meio onde estava” (v.9).
Talvez se aquela mulher não tivesse sido pega em flagrante, ela nunca teria se encontrado com Jesus.
Talvez se aquela mulher não tivesse sido pega em flagrante, ela nunca teria repensado as suas atitudes.
Talvez se aquela mulher não tivesse sido pega em flagrante, ela nunca teria recebido o perdão e a possibilidade de uma vida liberta do pecado.
Mas Jesus estava sentado, escrevendo no chão e “erguendo-se Jesus e não vendo ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: ‘Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou’” (v.10). “Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: ‘Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais” (v.11).
Jesus havia concedido perdão e graça ao rapaz que estava sobre a maca em Marcos 2.5: “Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: ‘Filho, os seus pecados estão perdoados’”. Nessa mesma passagem, Jesus havia afirmado: “Mas, para que vocês saibam que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados” (Marcos 2.10). João ainda registra: “Jesus lhes deu essa resposta: ‘Eu lhes digo verdadeiramente que o Filho não pode fazer nada de si mesmo; só pode fazer o que vê o Pai fazer, porque o que o Pai faz o Filho também faz” (João 5.19). Nessas mesmas palavras, as atitudes de Jesus revelam um reflexo do Pai. Essas deveriam ser as mesmas atitudes de todo aquele que se considera filho.
Desmond Tutu afirma em seu livro: “Deus não é cristão e outras provocações” que: "[...] Fomos feitos para proclamar o Deus do amor, mas, como cristãos, somos culpados de semear o ódio e a suspeição”.  E vou mais além: fomos feitos para proclamar o Deus do amor, mas, como cristãos, somos culpados por condenar o próximo e nos colocamos à parte como não tivéssemos pecados. Foi Jesus mesmo quem disse: “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?” (Lucas 6.41). A grande lição que tiro do texto, amado leitor (a), é que o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus não tem pedras nas mãos. Quem tem pedras nas mãos é a religião. O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus é puro amor e graça. A religião é condenação. Jesus não veio para julgar o mundo, mas para salvá-lo (João 12.47).

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Romanos 8.14-16 - Uma breve reflexão

“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes outra vez, atemorizados,mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”
Romanos 8.14-16

            O Apóstolo Paulo é bastante claro quando discerne que os filhos de Deus são identificados como aqueles a quem se permite ser conduzidos pelo seu Espírito. Pelo Espírito do Próprio Pai. E que somos considerados “filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gálatas 3.26 - NVI). (Isso significa dizer também que, estamos envolvidos com a Trindade). Que graça maravilhosa! Pela fé no Filho nos tornamos filhos adotivos “segundo a boa determinação de sua vontade” (Efésios 1.5 – Almeida Século XXI). Filhos que são gerados e filhos que são adotados. Gerados somos todos. Afinal de contas, Ele “formou o homem do pó da terra e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida” (Gênesis 2.7). Ora, aquilo que O Pai soprou vinha dentro de si; portanto Deus é Aquele que reparte com a sua criação justamente o que estava em seu interior e compartilha conosco de modo que dentro de nós também ficasse. “E o homem tornou-se uma alma vivente” (Gênesis 2.7b). Mas, filhos que são adotados recebem a GRAÇA da inclusão; de serem aceitos segundo o beneplácito de sua boa vontade. Pois ninguém adota sem liberalidade; sem identificar-se com aquele que é adotado. Sendo assim, uma vez que somos criados pelo próprio Criador por Ele também somos adotados. Isso é amor em demasia; amor sem explicação; amor de Pai. Amor de Abba.
            Mas não recebemos o espírito de escravidão, porque o Espírito que o Pai concede é o Espírito de Adoção. Anteriormente, vivíamos atemorizados, mas agora envoltos nos braços do Pai protegidos pelo seu amor, não temos o que temer, pois “no amor não há medo, pelo contrário, o perfeito amor elimina o medo, pois o medo implica castigo, e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor” (I João 4.18). E é justamente esse Espírito de Adoção que podemos chamar Deus de “Paizinho”, “Papai”.
            Em seu livro “O impostor que vive em mim”, Brennan Maning afirma que: “Em sua jornada humana, Jesus experimentou Deus de um modo que nenhum profeta de Israel jamais tinha sonhado ou ousado imaginar. Jesus era habitado pelo Espírito do Pai, e deu um nome a Deus que escandalizou os teólogos e a opinião pública de Israel, o nome que saiu da boca do carpinteiro nazareno: Aba.”
            Muito provavelmente Jesus se utilizou dessa expressão íntima quando falava com seus pais, referindo-se inclusive ao seu pai de criação, José. Em nenhuma religião no mundo, até mesmo no judaísmo havia precedentes desse pronome de tratamento. Jesus veio trazer uma resignificação de YHWH. De nome, antes impronunciável, YHWH agora é Abba.
            Joachim Jeremias afirma “Aba, como forma de se dirigir a Deus, é ipsissima vox, uma expressão original, autêntica de Jesus. Somos confrontados com algo novo e inusitado. Nesse ponto está a grande novidade do Evangelho”.
            E se não recebemos o espírito de escravidão, recebemos assim o Espírito de Liberdade. A experiência cristã de Deus é um chamado à liberdade. E se todos somos guiados pelo seu Espírito não temos porque temer a liberdade. Não há espaço para concessão do pecado, da licenciosidade, da permissividade, do contrário já não somos guiado pelo Seu Espírito. É nesse ponto que muitos revelam um legalismo disfarçado de graça. Assim, aqueles que vivem na angústia da liberdade da graça, precisam do cabresto da lei e resumem a vida cristã à uma listinha de regras, entre proibidos e permitidos.
            Repito e insisto: Todo aquele que é guiado pelo Espírito de Deus, vive a liberdade do Espírito, experimenta uma vida na GRAÇA e não teme a liberdade porque é guiado pelo Seu Espírito.
            E as atitudes de quem é filho, revelam a identidade do Pai. É isso que Jesus também veio nos mostrar; um Pai que ama, só pode criar filhos que amam; um Pai que se doa, só poder criar filhos com o mesmo comportamento. Mas o Espírito que recebemos, “testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”. Há uma conexão de Espírito-espírito. Um relacionamento. Partir daí, damos a conhecer – principalmente a nós mesmos – quem é o nosso Pai.

            Deus os abençoe.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Pensando Alto #01

Não me surpreendo que alguns cristãos que preferem ver Deus como justiça/Deus punição, vivem mais aprisionados pela culpa e pelo medo do fogo divino, do que aqueles que preferem ver Deus como Todo Amor e Graça. Não nos esqueçamos que na conversa de Jesus com a mulher adúltera, Deus não tem pedras nas mãos, quem tem é a religião.

Amando a Deus vivendo Cristo: O amor que gera intimidade.

“Pai nosso que está nos céus”.
Mateus 6.9

            Em tempos do Antigo Testamento, toda aproximação mediante a Deus, se fazia por meio de sacrifícios, através de uma pessoa única e exclusiva: o sacerdote. Ainda existia um véu – de grande espessura – que separava o local sagrado da presença de Deus, o Santo dos Santos. Mas todo esse protocolo foi “quebrado” quando Jesus chamou Deus de Pai. A palavra utilizada por Jesus em hebraico, equivale ao termo: “Abba”. Somente Jesus ousou chamar Aquele que tinha seu nome impronunciável – YHWH – isto é, Deus; de “Abba”. Os profetas e escritores do Antigo Testamento consideravam Deus como Pai, mas jamais ousaram se dirigir a Ele dessa maneira.
            “Abba é um vocábulo que nos faz lembrar o balbuciar de um bebê que ainda não aprendeu a falar. Alguns tradutores sugerem que o mais próximo que temos em português é a expressão de nossa infância, “papai”, “paizinho”, mas não chega a tanto [...] Jesus nos incentiva a tratar o Deus Altíssimo como Abba”.
            Mas observe que na oração de Jesus, Ele se refere ao “Pai nosso que está nos céus”. Mas, após o evento de Pentecostes no livro de Atos, o pastor e teólogo batista, Ariovaldo Ramos afirma que: “Deus trocou de endereço”. Ele não só habita nos céus, mas também na terra entre os homens. Jesus mesmo disse que aonde dois ou mais se reunirem em seu nome, ali, Ele estaria em nosso meio (Mateus 18.20). E onde a Jesus se faz presente, Deus, o Pai, também se faz presente junto com a Trindade, haja vista que Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, são um. Esse é o mistério presente ainda hoje, além da capacidade de compreensão humana. Já dizia um cantor popular: “Quem me dera ao menos uma vez entender como um só Deus ao mesmo tempo é três”
            Mas é justamente o amor que Deus tem por nós que nos possibilitou e nos possibilita uma aproximação sem protocolos, sem burocracias. E nós, colocamos esse ciclo em movimento quando nos aproximamos diante d’Ele, única e exclusivamente, por amor. Um amor que gera intimidade.
            Diante de Deus, o impostor que vive em mim fica completamente desnudo. Despido. Não precisamos deixar de ser o que somos, nem esconder as nossas mazelas e as nossas feridas para passarmos uma falsa imagem de que somos fortes e que conseguimos suportar muito bem os obstáculos da vida. Não! Não conseguimos. Brennan Manning afirma que: “Nós nos recusamos a ser o “eu” verdadeiro até mesmo diante de Deus – e aí nos perguntamos por que nos falta intimidade com Ele”.
            Tiago afirma em sua epístola no capítulo 2, verso 23: “Cumpriu-se assim a Escritura que diz: ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça’, e ele foi chamado amigo de Deus”. Abraão porque creu, obedeceu quando chegou a oferecer seu filho Isaque e foi justificado, tornando-se amigo de Deus. Existe um louvor infantil da cantora Aline Barros, onde ela faz as crianças cantarem: “Eu quero ser amigo de Deus”. É justamente esse amor puro de uma criança, na intimidade do dia-dia, em nossas orações, que temos a graciosidade de chamarmos Deus de Pai e amigo. Jesus ainda nos diz: “Vocês serão meus amigos, se fizerem o que lhes ordeno” (João 15.14).
            Lá no “comecinho” da Bíblia, encontramos um homem que pouco sabemos a história, ou melhor, nada sabemos senão que “Enoque andou com Deus; e já não foi encontrado, pois Deus o havia chamado para si” (Gênesis 5.24).
            Devemos andar com Deus de tal maneira que sejamos íntimos de Deus; como quem se aproxima por amor; como quem se aproxima única e exclusivamente porque “o véu do santurário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo” (Marcos 15.38). E porque cremos no seu nome, recebemos o direito de sermos filhos de Deus (João 1.12).

Que possamos pedir em oração a intimidade necessária, que gera amizade, amor, santidade e devoção, a fim de que nós andemos com Deus e isso já nos basta.




Bibliografia utilizadas: 
Talmidim: O passo a passo de Jesus. Ed René Kivitz
O impostor que vive em mim. Brennan Manning

quinta-feira, 21 de março de 2013

A (in?)cansável busca pela felicidade



Encontro frequentemente com pessoas que estão cansadas de sua existência; que desistiram da vida. Por vezes, fico me perguntando em que momento de sua história essas pessoas se depararam com aquilo que lhe é mais amargo. Por certo, estamos imersos e inseridos em uma sociedade consumista e globalizada onde as relações humanas são vistas como objetos e carentes de humanidade. Estranho paradoxo.
As cobranças sociais, familiares e pessoais são intensas. O ser humano vive assim pressionado por uma demanda que nem mesmo ele conseguirá satisfazer a si mesmo. A busca pela perfeição é esmagadora, quando na verdade deveria ser utópica, nos fazendo caminhar sempre para frente; nos impulsionando.
Existe ainda aqueles que buscam nas relações objetais transitórias, preencher o vazio de sua alma, regados a sexo, drogas, devorando tudo o que vê à sua frente, freqüentando religiões dos mais diversos segmentos, etc. Porque homem tem em si o desejo ardente da satisfação dos prazeres primários e instintivos. Nunca plenamente saciados. Que fique bem claro!
         A ânsia e o desejo da realização pessoal, é extremamente egoísta e egocêntrica. Trabalhamos e nos relacionamos, afinal de contas para o nosso “bel prazer”. E se alguém se relaciona com outra pessoa justamente porque essa só lhe faz bem, o que ela de fato deseja não é o relacionamento com essa pessoa, mas o bem que ela lhe faz. Paulo Brabo afirma que “não amamos as pessoas, amamos suas competências (...) nossa tendência mais natural é amarmos as pessoas pelo que elas são capazes de fazer. Nisso consiste a Lei Crua do Amor”. Sendo assim, afirma ele: “Sei muito bem aqueles que me sinto tentado a amar: os virtuosos, os compassivos, os bonitos, os fluentes, os criativos...”. Logo, aquilo que mais fazemos é estabelecer critérios de relacionamentos. “Aqueles que não tem nenhuma competência para oferecer – os feios, os desajeitados, os que não sabem cantar, os que não sabem agradar (...) intuem por sua vez, que nunca serão amados de forma unânime e intensa como os notáveis”.
         Trocamos de celular; trocamos de drogas (embora eu não as use mais há quase cinco anos. A única droga que agora consumo é esse lixo gospel. Estou tentando me libertar), trocamos a marca do cigarro (embora eu não fume mais há mais de 5 anos), trocamos de cônjuge (embora eu esteja com minha esposa mais de 9 anos), trocamos de religião (embora esteja na Igreja Batista a 5 anos) porque somos instáveis e inseguros. Tudo para nos sentirmos cada vez mais “felizes” e realizados.
O que torna a existência humana tão "pesada" e cansativa é a busca incansável pela felicidade, pelos prazeres do ego e da vaidade que sempre buscam objetos transitórios e nunca serão plenamente satisfeitos. Isso é escravizador.
A busca incansável pela liberdade, inclusive, pode ser a maior prisão.

segunda-feira, 18 de março de 2013

De filho pra filho



 Lucas 15.11-12

“Disse mais: Certo homem tinha dois filhos. O mais moço disse ao pai: ‘Pai, dá-me parte dos bens que me cabe a herança. Então o pai repartiu seus bens entre eles’”.

Essa é a parábola que Jesus se utiliza para falar do amor do Pai. Entre outras coisas, ela também nos demonstra o egocentrismo daqueles que só pensam em si mesmo. Nos versículos destacados acima, vemos o caráter de um filho que “olha” para seu pai como forma do que pode lucrar nessa relação. Todos nós sabemos que herança é um direito adquirido mediante a morte daquele que possui algum tipo de bem. Ao pedir à parte que lhe cabe, aquele jovem nega a existência do próprio pai.      
Ele não somente “mata” a figura paterna como reduz o tempo. Mais ainda, o filho mais novo ao requerer o seu direito antecipa o direito do seu irmão: “Então o pai repartiu seus bens entre eles”.
Imersos em uma sociedade capitalista onde as relações humanas são válidas a partir do momento em que você pode me oferecer algo em troca, não ficaria surpreso se nossa relação com Deus se estendesse somente naquilo que Ele pode fazer por mim. E se Deus é fiel somente naquilo pelo que Ele pode fazer por mim, eu sou um mero de um interesseiro. Ed René Kivitz, em seu Talmidim 211, afirma que “se Deus é apenas alguém que lhe dar o que você quer, seu coração está apaixonado não por Deus, mas pelo que você quer”.
Que Deus é Abba; ou melhor, que Deus é Pai, todo mundo sabe. Inclusive, o Evangelho Segundo São João nos afirma que “aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (João 1.12); Posteriormente, Paulo escreve em sua carta à Igreja de Éfeso que Deus “Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo” (Efésios 1.5). Me perdoem os mais interesseiros, mas não é porque somos chamados de filhos de Deus que temos a prerrogativa de reinvidicar parte da nossa herança, parte da nossa "bença" (como muitos dizem). 
O que me espanta, como pai que sou, é justamente o comportamento desse pai, retratado por Jesus nessa parábola. Ele não questiona: “Como assim parte da herança? Eu ainda estou vivo!”; “Com quem?”; “Como?”; “Pra quê?”; “Pra onde vai?”; “Volta quando?”; “Vai fazer o quê com esse dinheiro?”. Essas perguntas que todo pai faz quando o filho é sem juízo. Ele simplesmente acata o pedido. Ele reparte os bens. O desenvolvimento da estória demonstra que o jovem rapaz não soube lhe dar com aquilo que tinha em suas mãos,“ele desperdiçou todos os seus bens vivendo de modo irresponsável” (v.13).
            Esse é o problema de quem adianta o relógio da vida; de quem reinvindica antes do tempo; no calor da emoção, dos impulsos e da euforia de quem acha que pode viver longe do amor do Pai. Não antecipar os “planos de Deus” – como o senso comum da religião evangélica diz – pode nos prevenir de desejarmos comer a mesma comida dos porcos (v.16).
            Deus o abençoe.


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Aos ministros de louvor...

 
 Porque tantos ministros de louvor, cantores gospel, mais preocupados em promover um ministério que levam seus nomes próprios - ou outro nome qualquer - frequentemente trocam de igrejas? Estão mais preocupados em se tornarem públicos, envoltos em um projeto megalomaníaco e egocêntrico do que frequentarem uma comunidade e se relacionarem enquanto Igreja? Isso não seria extremamente lamentável? Quando a mídia gospel torna-se uma oportunidade de promoção e de comércio, as igrejas acabam se tornando um shopping center...