terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Coisas que ficaram para trás


“Irmãos, não penso que eu mesmo já tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus”
Filipenses 3.13-14
            As palavras de Paulo à igreja em Filipos são bem conhecidas do grande público evangélico. Há, inclusive, um louvor que trata do mesmo tema. Esse versículo pode ser utilizado com diversas propostas e intenções, mas você já parou para se questionar sobre o que realmente Paulo estava querendo dizer ao afirmar coisas que ficaram para trás? Que coisas eram essas? E o que ele pretendia com prossigo para o alvo? É justamente procurando responder às essas questões que convido você a refletir comigo nesse breve momento.

            Paulo era um homem religioso, orgulhoso de si e de suas raízes judaicas e ele apresenta suas credenciais de um homem religioso. [PAUSA] A palavra carne utilizada pelo apóstolo, nesse contexto e em tantos outros, refere-se ao cumprimento moral dos seus deveres religiosos, as suas tradições judaico-religiosas; sua religiosidade em geral. Vamos lá! “Se alguém pensa que pode confiar na sua religiosidade, muito mais eu; circuncidado ao oitavo dia, da descendência de Israel, da Tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, persegui a igreja; quanto à justiça que há na lei, eu era irrepreensível”. Filipenses 3.4-6. Pense bem se ele não tinha motivos do que se orgulhar.

            No entanto, para o apóstolo da graça, “o que para mim era lucro” – diz ele – o que era lucro? Sua virtuosidade com relação a religião. “[...] passei a considerar perda, por amor de Cristo”, prossegue. Paulo estava considerando como esterco (Filipenses 3.8), todo seu passado religioso de uma vida sem Cristo. Ele sabia muito bem que ninguém é justificado pela lei (Gálatas 3.11), mas que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei (Romanos 3.28). Desse modo, ele prosseguia para o alvo, que é Cristo (Romanos 10.4), o fim da lei. É em Cristo que todo homem é moldado à medida da estatura da plenitude de Cristo (Efésios 4.13).

            Isso nos leva a pensar da seguinte forma: Cristo é o “divisor de águas” na vida de um pecador, como também na vida de um religioso. Existe muito religioso que excluindo Cristo e sua graça, leva uma vida des-graçada. Quando reduzimos o cristianismo à um cumprimento de regras religiosas ("posso ou não posso"; "devo ou não devo"), excluímos Cristo e sua graça. Quando nos orgulhamos de nossa religiosidade aparente, excluímos Cristo e sua graça. Quando achamos que somos “certinhos” demais para com Deus, excluímos Cristo e sua graça, e a consequência é uma des-graça. (Os bancos de nossas igrejas estão lotados de gente assim). É justamente isso que devemos deixar para trás. Diante de Deus não existe credenciais religiosas, e todo religioso que apresenta sua credencial é um des-GRAÇA-do. O que Paulo considerou como esterco (cocô mesmo!) tem muito religioso considerando como virtude.

            O meu convite a você nesse ano é uma vida pelo Espírito (Gálatas 5.25). Que Cristo possa fazer parte de sua vida religiosa, que você possa prosseguir para o alvo que está adiante de você, não existe méritos nessa relação, se alguém tem todo mérito, é Jesus, não somos nós. E que possamos aprender pelo Espírito a viver uma vida que agrada a Deus sem pretensão alguma de querer agradar a Deus – pois quem vive para Deus, se liberta inclusive de desejar agradá-lo e passar a imitá-lo, na pessoa do seu Filho. E que possamos alcançar a maturidade da fé, à uma vida cheia da graça e que assim, possamos viver de acordo com o que já alcançamos (Filipenses 3.16). Um abraço. Deus os abençoe.

            

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Vivendo uma vida com significado

Esse ano pode ser diferente de todos os outros. Pode ser diferente porque você aprendeu mais, errou mais, acertou mais e ganhou mais experiência. Pense se não é verdade que esse ano pode ser realmente diferente de todos os outros. E não quero lhe desanimar ao afirmar que nesse ano, você errará mais, acertará mais e terá outras experiências. Bem vindo à vida!

O sábio no livro de Eclesiastes entendeu que a vida não passa de uma sucessão de fatos sem sentido. “O que foi será novamente. O que aconteceu acontecerá de novo. Não há nada novo no mundo” (Eclesiastes 1.9). No entanto, o que a grande maioria das pessoas precisa para sair dessa rotina, é dar um sentido a vida.

Tudo muda quando damos um significado à nossa existência. Tudo muda quando adquirimos uma nova maneira de olhar o mundo; tudo muda quando adquirimos uma nova maneira de olhar as pessoas; tudo muda quando adquirimos uma nova percepção do sagrado. Tudo que você precisa é de uma nova cosmovisão. As pessoas estão cansadas de enxergar o mundo com a mesma ótica de sempre. Quando isso acontece, a vida não passa de um tédio.

Jesus nos convida a olhar para Deus na perspectiva de um filho. Para o rabino de Nazaré, esse Deus “inacessível” é Abba (“Paizinho”) – o primeiro vocábulo que uma criança aprende quando balbucia o nome da figura paternaDesse modo, Agostinho estava certo quando afirmou que “Deus é mais íntimo a nós que nós mesmos”. Jesus nos convida a olhar para as pessoas com os olhos da graça – Deus derrama sua graça sobre todos (Mateus 5.45) –, livre de julgamento (Mateus 7.1-5). Para Jesus, inclusive, o meu inimigo deve ser alvo do meu amor (Mateus 5.44). Jesus nos convida a olhar para a vida como quem tem um grande compromisso (Mateus 28.19-20).

Quando nossos olhos são abertos por Deus, então descobrimos que existe uma razão de viver. E isso implica em muita coisa. Tem a ver com a maneira como eu vivo aqui e agora, em todas as dimensões. Sim, esse ano pode ser diferente! E tudo vai depender daquilo que faz mais sentido pra você, ou melhor, daquilo que você vai realmente dar um novo significado. 

A minha oração não pode ser outra se não que a sua escolha seja olhar para o mundo com os olhos de Cristo; acredite, persevere (lembra que eu disse sobre errar mais e acertar mais e ganhar mais experiência?), a graça do Senhor está sobre a sua vida. Você agora tem um alvo, e no fim do caminho existe uma cruz.




terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Um Deus assim, não pode ser Deus.

UM DEUS ASSIM, NÃO PODE SER DEUS
Minhas inquietações

[...] Que Ele venha num estalar de dedos em um canto de Israel.
Mas, tinha que nascer criança?
Que seu lugar de nascimento seja em berço de ouro.
Deus que é Deus não nasce na manjedoura!
E por favor, que seja em Jerusalém dentro do templo.
Curral, com certeza não.
Que os clicks dos paparazzos registrem o nascimento de Deus
Não um conjunto de pastores insignificantes em Israel.
Que seja uma família de grande reputação.
Fofoca de adultério, não!
E que seja a melhor família. A mais abastada.
Criança que nasce pobre não parece filho de Deus.
Que seu final seja glorioso.
E que não seja pregado em uma cruz.
Quem morre num madeiro, padece abandonado.
Um Deus assim, definitivamente não se parece Deus.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A ENCARNAÇÃO DO AMOR: Entre o milagre e a cura


Esse é o mês que celebramos o nascimento de Jesus. [Essa talvez seja a maneira mais simples de falar, e, também mais pobre e menos poética]. Ou melhor [permita-me reformular a introdução], esse é o mês que celebramos a encarnação do Amor em Jesus Cristo. Se Deus é amor (I João 4.16), e se amar é um verbo, e o Verbo se fez carne (João 1.14), então é correto afirmar o que se pretende com: A encarnação do amor em Jesus Cristo.

Isso se aplica a todas as atuações de Jesus de Nazaré, e as intervenções do Deus na história.

E diz respeito a Jesus de Nazaré, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda parte, fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo Diabo, porque Deus era com ele.” (Atos 10.38)

          Essa é a vocação para o qual fomos chamados pelo Nazareno, fazer o bem. Essa é a dimensão do Reino aqui e agora e o ainda não. Aqui e agora porque ele pode ser sinalizado em nossas ações neste presente momento, e ainda não porque de fato, esse Reinado ainda não se consumou por completo no khronos. Para a promessa do Reino que se estabelecerá por completo:

“Ele lhes enxugará dos olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem lamento, nem dor, porque as primeiras coisas já passaram.” (Apocalipse 21.4)

“O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito. O bezerro, o leão e o animal de engorda viverão juntos; e um menino pequeno os conduzirá. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias se deitarão juntas; e o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da cobra, e a desmamada porá a mão na cova da víbora. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar.” (Isaías 11.6-9)
            
Mas, como afirmamos, a dimensão deste Reino pode ser vivida aqui e agora, quando encarnamos o amor de Jesus e vivemos nessa dimensão.

Essa é a dimensão que Francisco Bergoglio resolveu sinalizar como forma de expressão do Reino através de suas ações.
           
Nas palavras de Vinicio, o homem desfigurado pelos inúmeros tumores que encobrem seu corpo:

"O Papa não teve medo de me abraçar. Enquanto ele me acariciava, eu só sentia seu amor"

Vinicio, durante mais de 30 anos de convivência com sua doença, sentiu pela primeira vez – talvez – um toque de amor. Quando o amor se encarna, ele multiplica toques. Existem pessoas que só precisam de um abraço.

 E mais, nas suas palavras: “O Papa não teve medo de me abraçar”, quando o amor se encarna, perde-se o medo de distribuir amor.
           
 Enquanto Francisco lhe tocava, o homem das dores sentia seu amor.

            E isso muda tudo!
            A maneira como vemos a vida.
            A forma como olhamos o nosso irmão.
            A maneira de interpretar a Bíblia.
            A forma como estendemos as mãos.

   Vinicio, pode – e sejamos bem realistas – nunca receber o milagre tão sonhado, no entanto, ele já recebeu a cura.
           
  Que neste fim de ano, onde celebramos o Amor que se fez criança, não sejamos adeptos de uma espiritualidade empacotada e produzida que só pode ser vivida nesta época do ano; essa espiritualidade de muito céu e pouca terra, de muita transcendência e pouca imanência. Quem acaba desejando se tornar um anjo, acaba perdendo sua humanidade. Então...
           
            Distribua toques,
            Beije,
            Abrace,
            Acolha
            E se permita ser acolhido.
           
           Quando a gente recebe a cura, o milagre é o que menos interessa.

Leia a matéria:



quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Keith Green e sua rejeição ao sucesso gospel.


"Keith Green estava no auge do seu "sucesso" quando começou a perceber que vender CD com músicas cristãs era comercializar o evangelho. 

Ele era músico, vivia disso. Mas chegou um tempo que ele não mais suportou e cancelou o contrato com sua gravadora e resolveu fazer os seus próprios discos e dar ao invés de vender.
Em suas apresentações, ele dizia no final: "Quem quiser o meu CD, deixe o seu nome e seu endereço, que até 6 semanas eles estarão chegando em sua casa." Pela graça de DEUS ele foi sustentado, e não só ele, mas a família dele, e muitos cristãos desabrigados que ele colocava para morar dentro de sua residência. As pessoas ao receberem o CD doavam alguma coisa no que podiam, ou quando podiam. Por um CD do Keith já chegaram a pagar tanto 1 dólar, quanto 5 mil. DEUS o sustentou. DEUS é Fiel e não abandona seus filhos.

Enquanto uns se denominam verdadeiros adoradores dizendo que só canta se pagar 80 mil reais, eu vejo a total confiança de um servo que abriu mão de todo o conforto e segurança do dinheiro que recebia para depender tão somente da providência daquele que o havia chamado. Ele faria 60 anos hoje, mas aprouve Deus levá-lo com apenas 28 anos de idade em 1982, mas ele definitivamente deixou um exemplo a ser seguido.

"Fiel é aquele que vos chama, e ele também o fará." (1 Tessalonicenses 5:24)



Mahmundi - Sentimento


O amor é um mar difícil
Tão fácil de se ver e admirar
Todo amor tem um artifício
Que não acaba e ninguém pode mudar

Guardo tanto tempo em mim
Tudo só pra te mostrar
Que vai valer a pena de verdade

Guardo tanto tempo em mim
Tudo só pra te mostrar
Que o amor é tudo que me interessa

O amor é um mar difícil
Mas é tão fácil de se ver e admirar
Todo amor tem um artifício
Que não acaba e ninguém pode mudar

Guardo tanto tempo em mim
Tudo só pra te mostrar
Que vai valer a pena de verdade

Guardo tanto tempo em mim
Tudo só pra te mostrar
Que o amor é tudo que me interessa

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Quando a religião arranca o cérebro de você e sobra só a emoção...


Papai Noel não sabe nada da graça de Deus

Ontem foi um dia interessante. Eu e minha esposa passeamos com nosso filho em um shopping. Tudo parecia lindo - afinal de contas o Natal se aproxima e as crianças gostam muito dessa época do ano. João tem seis anos, e já há 2 meses atrás pensava no presente que poderia pedir a "Papai Noel". (Com certeza, para meu filho, o Papai Noel nunca soube o que é inflação e a lógica do sistema capitalista). Mas, voltando ao shopping, encontramos aquela árvore de Natal imensa, toda decorada onde pais e filhos fazem questão de registrar o momento. Do outro lado, advinha: lá estava um velho barbudo, cansado, esperando o momento de fechar o shopping e receber os cem reais pela sua diária. "Olha paiii... O Papai Noeeelll". [Gritava João todo empolgado]. Logo na entrada, uma menina vestida de Mamãe Noel com a síndrome do Benjamin Button, foi logo perguntando a João: "E você, garotinho? Tem sido um bom menino para ganhar o presente do Papai Noel?" [PAUSA]. Uma das verdades que mais me fascina na Bíblia inteira é sobre a graça de Deus. A melhor definição (e penso não haver outra) é favor imerecido. Sempre que você ouvir sobre graça, pense num presente que você não fez por merecer. A graça de Deus pouco se importa com os padrões de comportamento. "[...] porque Ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos". (Mateus 5.45). Sabe o que isso significa? No caso do meu filho, criancinhas desobedientes também são merecedoras de presente! Voltando à cena do shopping e olhando para meu filho, lembrei-me que havia chamado sua atenção à pouco tempo na livraria pelo seu comportamento um pouco "desajustado". Olhei de volta para a menina [a Mamãe Noel com a síndrome do Benjamin Button] e pensei: "Acho que o Papai Noel dessa menina é chato, mau humorado, ranzinza e rabugento. Talvez se pareça com o deus que ela acredita". Não demorou muito até que após alguns segundos João voltasse da foto para os meus braços e a alegria no seu coração de que independente do seu comportamento, o nosso Papai Noel também abençoa criancinhas desobedientes [e ele sabe bem disso!]. Com certeza o bom velhinho não sabe nada da graça de Deus. Salve a graça!

A Salvação é Integral

A SALVAÇÃO É INTEGRAL! 
“Quando se aproximaram de Jesus e viram o endemoninhado, o que fora possuído pela legião, sentado, vestido e em perfeito juízo, ficaram com medo.” (Marcos 5.15)

Durante muito tempo fui acostumado a interpretar essa passagem com ênfase no grande duelo que Jesus travou com os demônios que atormentavam esse rapaz. A maneira como se deu o embate e a autoridade que Jesus exerceu sobre aquela “legião”, de fato, sobressaltam o texto. No entanto, existe algo muito mais belo, singular e humanizador quando encontramos o que antes fora possesso, muito bem vestido e “em perfeito juízo”. De fato, para quem pode visualizar a cena inicial, é assustador.
Aquele homem vivia possesso por um “espírito impuro” (Almeida Século XXI), “imundo” (RC e RA). Impuro e imundo são expressões de algo que se tornou sujo, nojento; geralmente com uma aparência bastante assustadora. Esse era o retrato daquele homem. Nele não havia mais beleza, pois os demônios são doutorandos em roubar a beleza. Os demônios transformam sempre o belo em algo feio, horripilante. 
O seu lugar de morada tinha cheiro de morte; ele “veio dos sepulcros” (5.3), habitava em um cemitério, mantinha contato direito com os cadáveres. Sua força era descomunal! “... nem mesmo com correntes alguém era capaz de prendê-lo, porque ele havia sido preso muitas vezes com algemas e correntes, mas as correntes eram quebradas por ele, e as algemas, despedaçadas. Ninguém tinha força para dominá-lo” (5.4). 
Diz ainda o texto, que aquele homem não tinha sono, pois “noite e dia, ele andava sempre gritando”. Não tinha nem garganta! A sua voz ia se esvaindo a cada berro. Os demônios também são responsáveis por minar as nossas energias, os nossos recursos, a nossa saúde. Há muito tempo ele não dormia. Esses espíritos peçonhentos também roubam o sono, pois Deus também mora no sono. Aquele homem foi roubado de si. Num estágio ainda mais degradante, ele se mutilava e se feria “com pedras pelos sepulcros e pelos montes” (5.5). Eles querem destruir o corpo! 
De repente, o encontro, o contraste; o confronto: A vida x morte; a beleza x feiura; a saúde x doença; a liberdade x prisão; Jesus x demônio. Agora aquele homem agora podia dormir, ele estava livre, havia recuperado a beleza; “sentado”, “vestido”, “em perfeito juízo”, com saúde mental, emocional e física, havia recuperado a sua voz, no seu corpo não havia marcas. O que antes era considerado inimputável agora podia reconstruir sua própria história. Ao perceber que Jesus ia saindo, desejou ir com ele, “Jesus, porém, não lhe deu permissão, mas disse: Vai para casa, para a tua família, e anuncia-lhes quanto o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti” (5.19). O Senhor, com o seu coração havia enxergado a miséria daquele homem; miseri-córdis. Ele agora tinha uma missão! O encontro com Jesus é sempre emancipador. O encontro com Jesus é sempre humanizador. A salvação nunca é só da alma, é também material. A salvação é por inteiro, por completo, é integral! Nossas instituições, nossas igrejas, estarão mais perto da mensagem e da práxis de Jesus quando perceber que o cumprimento da sua missão é sempre o comprometimento com a vida, porque de alma já lotamos o céu inteiro (Jesus pouco falou ou nada falou de alma, mas de vida. Jesus poderia somente salvar a alma daquele rapaz, mas Deus-lhe vida!). E que Deus nos abençoe, a cumprir o seu ide, a cumprir o nosso papel remidor na história; a reverter os processos demonizados e demonizantes; a fazermos obras maiores, porque Ele foi para o Pai (João 14.12), mas também está com a gente!


Sobre Encontrar Deus

[...] Há ainda aqueles que procuram Deus nos lugares mais altos, nos montes ou quem sabe, além de um lugar aonde podemos ir; existem aqueles que procuram Deus nos congressos de espiritualidade e avivamento, como se Deus se manifestasse mais intensamente em 3 dias com hora e local marcado; mas existe também aqueles que encontram a Deus na singularidade da vida; no cotidiano; em alguma esquina de volta pra casa ou no canto de um pássaro. Moisés encontrou Deus na sarça ardente, Elias numa brisa suave. Somos convidados por Deus a encontrá-lo da maneira como O percebemos. (Ele costumeiramente se apresenta da forma como menos imaginamos; com uma roupagem que não parece Deus).

Porque os evangélicos são tão crentes, mas tão feios?

"[...] Pergunto-me por que nossos cultos não têm os cheiros nem os paladares tão criativamente espalhados por Deus para a aventura de viver. Por que nossos templos são descoloridos e preferimos os cartazes de propaganda e as frases de admoestação aos quadros e esculturas dos artistas? Por que nossas músicas são, com frequência, tão piegas e repletas de frases repetitivas e sem criatividade? Por que nossos sermões são mais bem considerados na medida de seus moralismos e advertências austeras? E por que nossas liturgias são tão previsíveis? Nossa indumentária, tão austera? Sugerem uma gente com medo das sensações, desconfiada de tudo o que não termine em conclusões de ordenança moral e afirmações peremptórias. Por que nossas festas são reduzidas à comilança? Sem dança e descontração, sentamo-nos ao redor de mesas para nos ocuparmos do único prazer que nos resta, comer."

Livro: E Se Alguém Acender a Luz 
Autor: Elienai Cabral Jr.

Marcos Almeida - Hoje Tem Guerra



segunda-feira, 1 de dezembro de 2014


DEUS SE FEZ BEBÊ (Parte 1) - Uma pastoral para o natal


O verbo se fez carne, ganhou corpo. Aquilo que era abstrato, palpável se fez. O Deus que a tudo criou, experimentou a obra de suas mãos. Depois de tanto ver o milagre do nascimento, milagre se fez; depois de tanto assistir crianças recém nascidas, desejou tocar por dentro o ventre de Maria. Sim! Deus escolheu a barriga de uma mulher como casulo durante seus primeiros nove meses de vida. Sua primeira casa aqui na terra. Lá estava ele, envolto em líquido amniótico. Foi alimentado de forma intrauterina. Já nasceu sujo de sangue.
Deus se fez bebê. Usou fraldas. Escolheu a fragilidade de uma criança. Parece escandaloso que o Deus Todo Poderoso escolhesse vir ao mundo assim. Gente. Humano como nós. Os primeiros passos devem ter sido uma alegria só para seus pais. A poeira do chão se misturava aos pezinhos que buscavam firmeza. Opa! A primeira queda a gente nunca esquece. Lá estava José estendendo a mão ao Deus que nem sabia andar direito.
Não demorou muito para que sua mãe trouxesse a primeira papinha para o almoço.
“Acho que gostou”. (Se entusiasma Maria que de tão nova teve de aprender a cozinhar logo cedo).
“Agora, preciso pegar ele no colo. Dizem que as crianças nessa idade dão refluxo.”
Quando apontou no mapa do seu escritório aquele pedaço de terra, aquela faixa em Israel, escolheu um povo com determinada cultura e características biológicas. Adquiriu traços marcantes: nariz de “batata”; sobrancelhas grossas; olhos “esbugalhados”. (Em nada se parece com o Jesus que os americanos criaram de olhos verdes e cabelos lisos).
- “Esse menino vai ser carpinteiro!” Afirma o pai de Jesus todo orgulhoso do seu ofício.
- “Como assim Deus tem Pai?” Pergunta João de seis anos.
- “O Pai de Jesus não era Deus?” [Prossegue]
- “Se Jesus é Deus, pode Deus ser Pai de Deus?”
- “Bom, a história é dele, meu filho, e Ele a constrói como quiser”. Afirmo.
- “Mas quer saber? Pai é quem cria.”
- Seu nome será Jesus. Foi o anjo quem me disse!” (Mateus 1.21). Disse José ao moço do cartório.
- “Nome simples, sabe... Gente do interior é assim mesmo”.
- “Mas, todo mundo se chama Jesus por aqui”. Afirma o escrivão.
- “Mas esse menino será diferente. Já nasceu com status de Salvador. Esse será o seu nome! “[...] porque ele salvará seu povo dos seus pecados.” (Mateus 1.21).

BLACK FRIDAY DOS MILAGRES! Aqui também se engana o povo!


Preferia que fosse mentira, mas essa é uma foto real tirada de um banner de uma grande empresa religiosa.
É lamentável a maneira como o evangelho de Jesus Cristo é distorcido pelos empreendedores da fé como forma de manipulação espiritual com o fim último de extrair todos os recursos financeiros de uma pessoa que bate à porta do templo, desesperada, procurando uma solução imediata e instantânea para as suas demandas. Esses gerentes de lojas (que de forma alguma representam a Igreja que se reúne em torno da pessoa do Cristo de Nazaré) apresentam seus apelos institucionais como forma de atender uma freguesia ávida pelas benesses do ídolo criado. Isso mesmo! Cria-se um ídolo - que de forma alguma pode ser o Deus revelado por Jesus de Nazaré - para atender as necessidades emergenciais e de luxo e ostentação, daqueles que se relacionam com deus (mas que deus?) na base da barganha, contratando serviços terceirizados das entidades criadas pelos sacerdotes dessa religião. Todavia, como um ídolo não existe, não têm vontade própria, quem sustenta todo discurso idolátrico é justamente aquele que promete as bençãos divinas se você trouxer a sua oferta à casa do tesouro - Banco Central Universal - pela fé! Tem que ser pela fé! E se você não recebeu é porque não teve fé suficiente ou porque tem algum pecado escondido.
O milagre perdeu seu sentido bíblico. Milagre agora é passar no concurso público; milagre agora é passar no exame pra carteira de motorista; milagre é arrumar um namorado (a); milagre é conseguir comprar um carro; milagre agora é tudo que você deseja mas que parece estar tão longe de se tornar realidade, que só mesmo um "milagre". No entanto, os milagres bíblicos encontrados no Novo Testamento estão à favor dos miseráveis, daqueles que necessitavam de uma cura física, e, mesmo assim, não vemos os milagres dos tempos bíblicos com a mesma frequência que vemos hoje. Os milagres estavam associados primeiramente à identidade messiânica de Jesus; o milagre aponta para uma mensagem; para um propósito, por isso João os chamam de "sinais". Existiam milagres que só um messias poderia fazer. Esse é o sentido real. Alguns estudiosos afirma que o registro dos milagres nos Evangelhos não são uma promessa de que aqueles milagres acontecerão da mesma forma hoje! Mas encontram-se lá justamente para deixar registrado para aquela comunidade que receberia aquele evangelho em suas mãos, com a finalidade de saber, conhecer e legitimar que Jesus de Nazaré era o Messias tão esperado e o Filho do Altíssimo, a quem Deus havia dado autoridade para operar sinais e maravilhas. Os milagres em Atos dos Apóstolos, continuam com a mesma intenção de oficializar a mensagem apostólica.
Meus irmãos, milagre NÃO acontece com hora e local marcado pelos empreendedores da fé! Milagre é sempre inesperado. É sobrenatural.
E mais, Jesus deixou bem claro que falsos profetas também fariam milagres e que tais, não entrariam no Reino dos Céus.
Eu acredito em milagres, mas não em milagres industrializados, reproduzidos em massa como forma de marketing ministerial. Eu acredito em milagres! Milagres que glorificam a Deus, cujo mérito não é de homens. Pedro, após o milagre do aleijado na porta do Templo (Atos 3), percebendo que a multidão espantada pelo sobrenatural de Deus - repito, na porta do Templo e não dentro! - poderia, ainda que por alguns segundos olhar para ele, como se Pedro tivesse todo mérito no milagre oferecido ao aleijado, declara em alto e bom som:
"Vendo isso, Pedro lhes disse: "Israelitas, por que isto os surpreende? Por que vocês estão olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar por nosso próprio poder ou piedade?
O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus dos nossos antepassados, glorificou seu servo Jesus, a quem vocês entregaram para ser morto e negaram perante Pilatos, embora ele tivesse decidido soltá-lo.
Vocês negaram publicamente o Santo e Justo e pediram que lhes fosse libertado um assassino.
Vocês mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. E nós somos testemunhas disso.
Pela fé no nome de Jesus, o Nome curou este homem que vocês vêem e conhecem. A fé que vem por meio dele lhe deu esta saúde perfeita, como todos podem ver." (Atos 3:12-16).
Mais uma vez fica nítido, que o milagre vem acompanhado de uma mensagem cujo objetivo é anunciar o Cristo ressurreto.
Agora sei que você que não é cristão, mas se identifica com aquilo que penso e escrevo, talvez esteja lendo nesse momento essa publicação; permita-me lhe pedir um favor: NÃO CONFUNDA A IGREJA EVANGÉLICA QUE SE REÚNE EM TORNO DA PESSOA DE JESUS CRISTO E DO SACRIFÍCIO DO CORDEIRO DE DEUS COM ESSA GRANDE BABEL, QUE NADA TEM A VER COM OS EVANGELHOS.
Por favor 2:
Sempre que você vê um banner com a propaganda: "Grande Campanha de Milagres"; "TEMPO DA RESTITUIÇÃO"; "CAMPANHA DA EXALTAÇÃO"; etc. NÃO ENTRE LÁ! REPITO: NÃO ENTRE NESSE LUGAR QUE USA A IGREJA DO SENHOR COMO FACHADA. A palavra do Senhor está sendo aviltada. Deturpada. Eles apenas querem manipular você em nome de um deus que eles criaram e que não existe. Faça um favor a você! Não entre.

O GRITO DA SOLIDÃO




Existem momentos na vida que mesmo em meio a tantas pessoas amadas; mesmo em meio a tantas coisas importantes a se fazer; mesmo em meio a tantas coisas para sorrir; nos sentimos sozinhos; isolados e choramos. Esse é o momento que escolhemos passar a sós. E ninguém pode passar pela gente. Há mais de 2 mil anos o grito na cruz tornou-se a expressão máxima da dor: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mc 15.34). No entanto, há mais de dois mil anos aquele grito continua ecoando o silêncio dos dias escuros da nossa alma. Nele, porém, uma lição: depois daquele grito, descobrimos que não estamos sozinhos. Somente quem se sente abandonado por Deus fazer coro à voz dos desamparados. Ele experimentou a dor e a solidão para que nos dias mais tristes da nossa vida, sejamos confortados com sua presença. Deus é EMANUEL. DEUS CONOSCO. Quando rimos podemos ouvir a sua gargalhada nos bastidores do espetáculo da vida, quando choramos podemos ouvir a sua lágrima escorrer o rosto na tragédia do drama. Depois daquela cruz e pra quem se aproxima dela, nunca estamos sozinhos. Lá estava Maria, Madalena e João. "Eis aí o teu filho; eis aí a tua mãe" (João 19.26-27). A fé cristã é feita de pessoas que repartem a sua dor com o seu irmão, que divide o fardo e que cuida um do outro.

A oração do Pai Nosso

INTRODUÇÃO
D. Martyn Lloyd Jones em seu livro: “Estudos no Sermão do Monte” afirma que encontramos no capítulo 6 do livro de Mateus “uma exposição feita por nosso Senhor acerca da questão inteira da piedade cristã”. A esmola - nossa caridade em favor do próximo necessitado; a oração e nosso relacionamento com Deus e o jejum. Jesus parece assim nos alertar acerca da não publicidade das disciplinas espirituais: “Cuidado para não praticardes boas obras diante dos homens a fim de serdes vistos por eles; do contrário, não tereis recompensa de vosso Pai, que está no céu.” Eugene Peterson em sua paráfrase registra o versículo acima, da seguinte maneira: “Quando fizerem o bem, tenham cuidado para que seu gesto não vire peça de teatro. Pode até ser um bom espetáculo, mas Deus não vai aplaudir”. Essa é a contramão do farisaísmo que faz de sua piedade um marketing pessoal religioso. Seu objetivo é ser reconhecido pelos homens como exemplo, padrão de espiritualidade. “Em verdade vos digo que eles já receberam sua recompensa” (6.2). Deus não vai aplaudir!
“Cada novo ensinamento sobre a espiritualidade e a devoção focaliza, não o ato em si mesmo, ou a repercussão que nossos atos têm sobre as pessoas, mas a maneira como o Pai percebe tudo o que somos e fazemos [...] O discípulo não deve fazer publicidade em torno de sua espiritualidade nem superestimar méritos ou métodos”. [Carlos Queiroz].
Os evangelhos me convenceram que a espiritualidade que Jesus vivia e deixou como exemplo para seus seguidores estava firmada no amor ao próximo, no relacionamento com Deus e na discrição. Isso mesmo, Jesus era extremamente discreto: “Não gritará nem clamará, nem erguerá a voz nas ruas”. (Isaías 42.2; Mateus 12.19).
Assim, o que proponho nesse breve estudo, diz respeito não somente quanto a discrição da oração, como também e principalmente ao seu conteúdo. (Já que estamos nos aprofundando no Sermão da Montanha).
A oração do Pai Nosso, é a oração mais conhecida e recitada pela religião cristã. Mateus a situa no discurso de Jesus no Sermão da Montanha. Em tese, o Sermão da Montanha ensina o homem como ser gente; como se relacionar enquanto ser humano, com o seu próximo e com Deus. Lucas, porém a situa no caminho de Jesus para Jerusalém. Interessante é que antes de registrá-la, Lucas faz a seguinte observação:
“E aconteceu que, estando Ele a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos” (Lucas 11.1)
Afinal de contas, o que havia nas palavras de Jesus – na oração do Pai Nosso – que suscitou nos seus discípulos o desejo de orar como o seu Rabi? Todavia Mateus não deixa passar despercebido do leitor algumas correções que Jesus faz, acerca da postura de seus discípulos na oração e faz algumas colocações consideráveis:

ORAÇÃO, HIPOCRISIA E PUBLICIDADE
“E, quando orardes, não sejais como os hipócritas; pois gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam sua recompensa”. (Mateus 6.5).
“E quando forem a presença de Deus não façam disso uma produção teatral. Essa gente que faz da oração um show está buscando o estrelato! Vocês acham que Deus está no camarote, apreciando o espetáculo?” (A Mensagem)
John Stott afirma que “a hipocrisia não o único pecado a ser evitado na oração; as “vãs repetições”, ou a falta de significado, a oração mecânica é outra”. A intenção de Jesus, nas palavras do Pastor Carlos Queiroz é: “desmascarar a futilidade do uso publicitário da oração para o prestígio pessoal”. “... (Eles) gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens”.

A INTIMIDADE DA ORAÇÃO
“Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê o que é secreto, te recompensará”. (Mateus 6.6)
A palavra no grego utilizada para a tradução de “quarto” é “Tameion” trazendo melhor o sentido da tradução para “depósito subterrâneo”, justamente aquele cômodo da casa onde colocamos nossas quiquilharias ou algum tesouro escondido, sendo um lugar de acesso íntimo, justamente esse lugar onde levamos nosso impostor à presença de Jesus, sem máscaras nem rodeios. Ali, diante de Jesus, estamos completamente despidos de nossas falsas onipotências. A oração de Davi em Salmo 51, é um desses momentos onde descemos ao porão da nossa alma e nos encontramos completamente despidos diante do Pai. “Podemos orar no quarto ou fora dele, ajoelhados ou não, rosto em terra, com lágrimas ou sem lágrimas. Seja este um lugar solitário ou uma noite silenciosa, o importante e significativo na oração é manter uma relação íntima de total apreciação pelo Pai. Orar  ‘no ‘tameion’ é recolher-se aos sentidos não cognitivos, não decodificáveis, usufruídos e fluídos no silêncio do lugar secreto”.
           
ORAÇÕES MECANIZADAS
“E, quando orardes, não useis de repetições inúteis, a exemplo dos gentios; pois pensam que serão ouvidos pelo muito falar”. (Mateus 6.7)
O que Jesus está querendo dizer aos seus discípulos é que não é o repetir as palavras que farão com que Deus atenda a nossa oração, como se tivéssemos o método correto e mais eficaz para chamar a atenção de Deus à nossa oração. A pretensão de achar que Deus pode ser manipulado pela nossa oração é a tentação do fiel idólatra, que age como se pela oração tivéssemos controle sobre o agir de Deus. Se “a oração move a mão de Deus” então Deus não passa de uma marionete na mão do homem e, tal qual como um ídolo, Ele é desprovido de inteligência, vontade e iniciativa. Permita-me ser mais claro e objetivo: Oração não move a mão de Deus! Orar “em nome de Jesus” também não é um “carimbo” que oficializa uma petição, “com certidão passada em cartório do céu e assinada embaixo: Deus. E com firma reconhecida!”. Orar “em nome de Jesus” não é o “abracadabra” da oração. Quando nos relacionamos com o Deus vivo, desta forma, estamos diante de um ídolo criado por nosso próprio desejo de ter uma divindade que esteja ao nosso serviço e atenda a nosso favor. Orar “em nome de Jesus Cristo” significa dizer que ele pôs o seu nome em risco para os propósitos da nossa oração e que muitas vezes colocamos a disposição dos nossos desejos egóicos mais intrínsecos. “Jesus (também) não pretende ensinar uma oração a ser meramente reproduzida na superficialidade litúrgica. Nem uma forma que, somente decorada e reproduzida, traga efeitos mágicos à vida dos seus seguidores”. A oração mecanizada torna-se assim, inútil. Nas “vãs repetições” o coração e a mente não estão em sintonia (soam como palavras ao vento), quando na verdade esse é o desejo de Jesus, que envolvamos nosso coração e nossa mente na oração. Recentemente, tive a oportunidade de visitar a cidade de Natividade/RJ, em um pequeno sítio onde casais católicos estavam sendo ministrados por um padre local. Enquanto aguardava a família da minha esposa em sua visita, observei um grupo de jovens que se ajuntava para a oração da tarde. Interessado na expressão de fé daquele grupo e no fenômeno religioso como um todo, me aproximei com bastante discrição. Após orar o “Pai Nosso” ipsis litteris, recitaram “Ave Maria” no mínimo três vezes, se não me engano. Interessante, pois me lembrei desse estudo e sobre esse versículo – particularmente – que não saía da minha cabeça. A minha pergunta era: “Como será que eles entendem Mateus 6.7?”. A percepção que eu tive era de que o mérito de alcançar “a benção recebida” estava justamente na repetição mecanizada da oração e não na graça e nos méritos de Cristo. A repetição, assim, não passava de uma fórmula mágica que “torcia” o braço de Deus em favor dos seus fiéis. Ao mesmo tempo observei que algumas palavras já não faziam sentido para aqueles jovens.
O livro “Sobre o céu e a terra” apresenta um diálogo entre o então cardeal Jorge Bergoglio (Papa Francisco) e o rabino Abraham Skorka. Quanto ao capítulo que se refere à oração, Skorka foi claro: “A oração tem que ser um ato de profunda introspecção, cada um deve encontrar a si mesmo e começar a falar com Deus”, enquanto que o Bergoglio assinalava: “Orar é um ato de liberdade. Mas, às vezes, surge uma tentativa de controlar a oração, que é a mesma coisa que tentar controlar Deus”. Orar segundo o estilo de Jesus, não se resume a formulação de jargões, com frases de efeito bem construídas, mas, uma aproximação simples, discreta, em comunidade ou no silêncio do “quarto”, quando feita de coração.

CHAMANDO DEUS DE PAI
“Vocês, orem assim: ‘Pai nosso, que estás nos céus!”
A primeira informação que encontramos na oração de Jesus diz respeito à face paterna de Deus; diferente de todos os outros deuses, criados pelos homens, Deus não é um deus que se mantém distante numa relação fria com seus fiéis; a maneira como Jesus percebe Deus é chamando-lhe de Pai, assim, Jesus nos convida a esse novo tipo de relação. Deus é Pai. E se podemos chamá-lo de Pai é porque primeiro, Ele nos vê como filhos.
Existe um relacionamento que excede a relação ente um deus e seus fiéis, o relacionamento de amor entre Pai e filho.
Essa expressão “Abba” indica a intimidade de um filho com seu pai. Chamar a Deus de Pai é uma exclusividade de Jesus e seus discípulos.

A ORAÇÃO COMUNITÁRIA
Mas observe que o Pai é nosso, a oração de Jesus é comunitária e da mesma forma devemos repartir esse Pai com o nosso próximo. Quando oramos em comunhão “Pai nosso” estamos afirmando que todos fazem parte de uma mesma família. Foi justamente isso que Jesus desejou para os seus discípulos, “uma grande rede de relacionamentos intra-familiares”.
Na oração de Jesus, quando o “Pai é nosso” aprendemos que somos todos irmãos e que o perdão deve ser a marca dos filhos de Deus. Ele é o Pai Nosso, o mesmo Pai do irmão que você cortou relacionamentos. É estranho orar ao Pai Nosso e manter a mágoa entre irmãos, diante do Pai.
A oração do PAI NOSSO, expressa ao mesmo tempo a comunhão e o amor ao próximo.
Jesus coloca a oração do Pai Nosso na primeira pessoa do plural onde a pessoa é disciplinada a sair do individualismo, do seu mundo fechado e abrir-se para novos horizontes de relacionamento.
“Que estás no céu” Jesus, agora está situando esse Pai em uma outra dimensão em oposição à nossa. Deus é um Pai que está no céu, nós somos filhos que estamos na terra. Ele não é um ídolo terreno; Ele é transcendente; todo-poderoso. Ele está em um lugar acessível que é o céu, quando oramos. Quando oramos o céu vem a nós. E a maneira que temos de compensar essa distância de dimensão (entre céu e terra) é chamando-lhe de Pai.
A dimensão do céu é onde a vontade do Pai é feita.

“santificado seja o teu nome”, a natureza de Deus é santa, a nossa é pecadora. E só podemos nos aproximar de um Deus Santo, sendo nós, ainda pecadores, porque o Filho nos inclui nessa família (João 1.12). E porque o Pai é Santo e Santo é o seu nome, implica que devemos viver de uma maneira tal que Sua Santidade se manifeste em Seus filhos.

CLAMANDO PELO REINO
Quando oramos “venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”, clamamos por uma intervenção de Deus na história. E que a realidade do céu, onde a vontade de Deus é feita se concretize entre nós. Que o governo de Deus seja real entre os homens, porque aqui na terra, a vontade de Deus não é feita como no céu.
Discípulo de Jesus é aquele que reconhece a injustiça humana como não sendo a vontade de Deus e ora para que Deus faça sua justiça nesse mundo injustiçado. É quando acumulamos bens para enriquecimento próprio enquanto existem pessoas que nada tem. O Pastor Neil Barreto afirmou no Congresso Missão na Íntegra/2013 que “Você não é abençoado pela quantidade de coisas que consegue ter, mas pela quantidade das coisas que consegue repartir.” Essa é a dimensão do Reino de Deus, a descentralização. Gastar R$1.000 (mil reais) com um cachorro numa clínica veterinária e não contribuir com R$100 (cem reais) para o exame médico de uma mulher grávida que aguarda a consulta na fila do SUS, é desumano. É a maioria pobre cada vez mais pobre sendo oprimida por uma minoria de uma classe cada vez mais rica.
Orar “venha o teu reino, seja feita a tua vontade” é chamar a responsabilidade para os discípulos de Jesus sinalizando a presença do Reino de Deus neste mundo, sendo sal da terra e luz do mundo. Orar “venha o teu reino, seja feita a tua vontade” é priorizar os interesses desse Rei, é a contramão da oração feita pelo próprio ego, é tirar o “eu” da oração e colocar o “nosso”.

O PÃO NOSSO
Por isso Jesus nos ensina a orar “O pão nosso”. A comunidade de Jesus é a comunidade que reparte o pão. Que enxerga a necessidade do próximo como sua. Pão é necessidade básica, devemos clamar em comunidade pelo básico da sobrevivência humana disponível a todos.
“O pão nosso passa a ser um problema da nossa falta de espiritualidade, quando o outro não tem pão [...] O Pai nosso também é a oração pelo pão de cada dia do outro”
Mas também clamar a Deus pelo “pão nosso” é clamar o próprio Cristo. “Eu sou o pão da vida” (João 6.35). Pão físico e espiritual.

O PERDÃO
“E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como também temos perdoado aos nossos devedores”. Lucas fala de ofensas, enquanto que Mateus (cobrador de impostos) faz referência a nossas dívidas. Só estamos autorizados a orar “e perdoa-nos as nossas dívidas” (as nossas faltas) quando primeiro perdoamos nossos devedores. “Assim como também”. Em outras palavras, perdoa-me Senhor, da mesma forma como tenho perdoado. A minha ação de perdoar antecede o meu pedido. Porque perdôo, posso orar me perdoa também, “assim como” ou seja, do mesmo modo.
O discípulo de Jesus que ora “e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como também temos perdoado aos nossos devedores” libera o perdão porque entende primeiro que foi perdoado e uma vez perdoado ele libera o perdão. Perdoar alguém é o que eu faço porque também fui perdoado por Deus. Observe a relação do versículo 12 com o versículo 14-15: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas”. Stott esclarece essa tensão de sermos perdoados se somente perdoarmos, sua reflexão é a seguinte: “Isto certamente não significa que o perdão que concedemos aos outros garante-nos o direito de sermos perdoados. Antes, Deus perdoa somente o arrependido, e uma das principais evidências do verdadeiro arrependimento é um espírito perdoador”.
“Pedir perdão e perdoar é uma vocação dos discípulos de Jesus. É a vocação da libertação plena”.

A TENTAÇÃO
“E não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal” A tentação é uma realidade na vida dos discípulos de Jesus. O próprio Mestre foi tentado. Se Cristo nos ensina a orar para que não caiamos em tentação é porque o Pai deseja preservar o filho. O Pai tem zelo pelo filho e se preocupa com o filho. Clamar a Deus, “e não nos deixes entrar em tentação” é reconhecer que além de estarmos vulneráveis aos ataques do maligno, somos tentados o tempo todo. E que a tentação muitas vezes não é algo que está fora do sujeito que ora, mas dentro dele. Tiago vai dizer que “cada um é tentado quando atraído e seduzido por seu próprio desejo”. (1.14).
“Mas livra-nos do mal”. Devemos nos sustentar nessa palavra. Estamos protegidos do maligno. João escreveu em sua primeira carta: “Sabemos que toca aquele que é nascido de Deus não está no pecado; aquele que nasceu de Deus o protege, e o maligno não o atinge”. (5.18). Mas também somos orientados pelo Apóstolo Paulo a nos afastar “de toda forma de mal” (I Tessalonicenses 5.22).

“... Porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém”.

De filho para filho

Lucas 15.11-12

“Disse mais: Certo homem tinha dois filhos. O mais moço disse ao pai: ‘Pai, dá-me parte dos bens que me cabe a herança. Então o pai repartiu seus bens entre eles’”

Essa é a parábola que Jesus se utiliza para falar do amor do Pai. Entre outras coisas, ela também nos demonstra o egocentrismo daqueles que só pensam em si mesmo. Nos versículos destacados acima, vemos o caráter de um filho que “olha” para seu pai como forma do que pode lucrar nessa relação. Todos nós sabemos que herança é um direito adquirido mediante a morte daquele que possui algum tipo de bem. Ao pedir à parte que lhe cabe, aquele jovem nega a existência do próprio pai.      
Ele não somente “mata” a figura paterna como reduz o tempo. Mais ainda, o filho mais novo ao requerer o seu direito antecipa o direito do seu irmão: “Então o pai repartiu seus bens entre eles”.
Imersos em uma sociedade capitalista onde as relações humanas são válidas a partir do momento em que você pode me oferecer algo em troca, não ficaria surpreso se nossa relação com Deus se estendesse somente naquilo que Ele pode fazer por mim. E se Deus é fiel somente naquilo pelo que Ele pode fazer por mim, eu sou um mero de um interesseiro. Ed René Kivitz, em seu Talmidim 211, afirma que “se Deus é apenas alguém que lhe dar o que você quer, seu coração está apaixonado não por Deus, mas pelo que você quer”.
Que Deus é Abba; ou melhor, que Deus é Pai, todo mundo sabe. Inclusive, o Evangelho Segundo São João nos afirma que “aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (João 1.12); Posteriormente, Paulo escreve em sua carta à Igreja de Éfeso que Deus “Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo” (Efésios 1.5). Me perdoem os mais interesseiros, mas não é porque somos chamados de filhos de Deus que temos a prerrogativa de reinvidicar parte da nossa herança, parte da nossa "bença" (como muitos dizem). 
O que me espanta, como pai que sou, é justamente o comportamento desse pai, retratado por Jesus nessa parábola. Ele não questiona: “Como assim parte da herança? Eu ainda estou vivo!”; “Com quem?”; “Como?”; “Pra quê?”; “Pra onde vai?”; “Volta quando?”; “Vai fazer o quê com esse dinheiro?”. Essas perguntas que todo pai faz quando o filho é sem juízo. Ele simplesmente acata o pedido. Ele reparte os bens. O desenvolvimento da estória demonstra que o jovem rapaz não soube lhe dar com aquilo que tinha em suas mãos,“ele desperdiçou todos os seus bens vivendo de modo irresponsável” (v.13).
            Esse é o problema de quem adianta o relógio da vida; de quem reinvindica antes do tempo; no calor da emoção, dos impulsos e da euforia de quem acha que pode viver longe do amor do Pai. Não antecipar os “planos de Deus” – como o senso comum da religião evangélica diz – pode nos prevenir de desejarmos comer a mesma comida dos porcos (v.16).
            Deus o abençoe.