segunda-feira, 18 de março de 2013

De filho pra filho



 Lucas 15.11-12

“Disse mais: Certo homem tinha dois filhos. O mais moço disse ao pai: ‘Pai, dá-me parte dos bens que me cabe a herança. Então o pai repartiu seus bens entre eles’”.

Essa é a parábola que Jesus se utiliza para falar do amor do Pai. Entre outras coisas, ela também nos demonstra o egocentrismo daqueles que só pensam em si mesmo. Nos versículos destacados acima, vemos o caráter de um filho que “olha” para seu pai como forma do que pode lucrar nessa relação. Todos nós sabemos que herança é um direito adquirido mediante a morte daquele que possui algum tipo de bem. Ao pedir à parte que lhe cabe, aquele jovem nega a existência do próprio pai.      
Ele não somente “mata” a figura paterna como reduz o tempo. Mais ainda, o filho mais novo ao requerer o seu direito antecipa o direito do seu irmão: “Então o pai repartiu seus bens entre eles”.
Imersos em uma sociedade capitalista onde as relações humanas são válidas a partir do momento em que você pode me oferecer algo em troca, não ficaria surpreso se nossa relação com Deus se estendesse somente naquilo que Ele pode fazer por mim. E se Deus é fiel somente naquilo pelo que Ele pode fazer por mim, eu sou um mero de um interesseiro. Ed René Kivitz, em seu Talmidim 211, afirma que “se Deus é apenas alguém que lhe dar o que você quer, seu coração está apaixonado não por Deus, mas pelo que você quer”.
Que Deus é Abba; ou melhor, que Deus é Pai, todo mundo sabe. Inclusive, o Evangelho Segundo São João nos afirma que “aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (João 1.12); Posteriormente, Paulo escreve em sua carta à Igreja de Éfeso que Deus “Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo” (Efésios 1.5). Me perdoem os mais interesseiros, mas não é porque somos chamados de filhos de Deus que temos a prerrogativa de reinvidicar parte da nossa herança, parte da nossa "bença" (como muitos dizem). 
O que me espanta, como pai que sou, é justamente o comportamento desse pai, retratado por Jesus nessa parábola. Ele não questiona: “Como assim parte da herança? Eu ainda estou vivo!”; “Com quem?”; “Como?”; “Pra quê?”; “Pra onde vai?”; “Volta quando?”; “Vai fazer o quê com esse dinheiro?”. Essas perguntas que todo pai faz quando o filho é sem juízo. Ele simplesmente acata o pedido. Ele reparte os bens. O desenvolvimento da estória demonstra que o jovem rapaz não soube lhe dar com aquilo que tinha em suas mãos,“ele desperdiçou todos os seus bens vivendo de modo irresponsável” (v.13).
            Esse é o problema de quem adianta o relógio da vida; de quem reinvindica antes do tempo; no calor da emoção, dos impulsos e da euforia de quem acha que pode viver longe do amor do Pai. Não antecipar os “planos de Deus” – como o senso comum da religião evangélica diz – pode nos prevenir de desejarmos comer a mesma comida dos porcos (v.16).
            Deus o abençoe.


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