quinta-feira, 21 de março de 2013

A (in?)cansável busca pela felicidade



Encontro frequentemente com pessoas que estão cansadas de sua existência; que desistiram da vida. Por vezes, fico me perguntando em que momento de sua história essas pessoas se depararam com aquilo que lhe é mais amargo. Por certo, estamos imersos e inseridos em uma sociedade consumista e globalizada onde as relações humanas são vistas como objetos e carentes de humanidade. Estranho paradoxo.
As cobranças sociais, familiares e pessoais são intensas. O ser humano vive assim pressionado por uma demanda que nem mesmo ele conseguirá satisfazer a si mesmo. A busca pela perfeição é esmagadora, quando na verdade deveria ser utópica, nos fazendo caminhar sempre para frente; nos impulsionando.
Existe ainda aqueles que buscam nas relações objetais transitórias, preencher o vazio de sua alma, regados a sexo, drogas, devorando tudo o que vê à sua frente, freqüentando religiões dos mais diversos segmentos, etc. Porque homem tem em si o desejo ardente da satisfação dos prazeres primários e instintivos. Nunca plenamente saciados. Que fique bem claro!
         A ânsia e o desejo da realização pessoal, é extremamente egoísta e egocêntrica. Trabalhamos e nos relacionamos, afinal de contas para o nosso “bel prazer”. E se alguém se relaciona com outra pessoa justamente porque essa só lhe faz bem, o que ela de fato deseja não é o relacionamento com essa pessoa, mas o bem que ela lhe faz. Paulo Brabo afirma que “não amamos as pessoas, amamos suas competências (...) nossa tendência mais natural é amarmos as pessoas pelo que elas são capazes de fazer. Nisso consiste a Lei Crua do Amor”. Sendo assim, afirma ele: “Sei muito bem aqueles que me sinto tentado a amar: os virtuosos, os compassivos, os bonitos, os fluentes, os criativos...”. Logo, aquilo que mais fazemos é estabelecer critérios de relacionamentos. “Aqueles que não tem nenhuma competência para oferecer – os feios, os desajeitados, os que não sabem cantar, os que não sabem agradar (...) intuem por sua vez, que nunca serão amados de forma unânime e intensa como os notáveis”.
         Trocamos de celular; trocamos de drogas (embora eu não as use mais há quase cinco anos. A única droga que agora consumo é esse lixo gospel. Estou tentando me libertar), trocamos a marca do cigarro (embora eu não fume mais há mais de 5 anos), trocamos de cônjuge (embora eu esteja com minha esposa mais de 9 anos), trocamos de religião (embora esteja na Igreja Batista a 5 anos) porque somos instáveis e inseguros. Tudo para nos sentirmos cada vez mais “felizes” e realizados.
O que torna a existência humana tão "pesada" e cansativa é a busca incansável pela felicidade, pelos prazeres do ego e da vaidade que sempre buscam objetos transitórios e nunca serão plenamente satisfeitos. Isso é escravizador.
A busca incansável pela liberdade, inclusive, pode ser a maior prisão.

segunda-feira, 18 de março de 2013

De filho pra filho



 Lucas 15.11-12

“Disse mais: Certo homem tinha dois filhos. O mais moço disse ao pai: ‘Pai, dá-me parte dos bens que me cabe a herança. Então o pai repartiu seus bens entre eles’”.

Essa é a parábola que Jesus se utiliza para falar do amor do Pai. Entre outras coisas, ela também nos demonstra o egocentrismo daqueles que só pensam em si mesmo. Nos versículos destacados acima, vemos o caráter de um filho que “olha” para seu pai como forma do que pode lucrar nessa relação. Todos nós sabemos que herança é um direito adquirido mediante a morte daquele que possui algum tipo de bem. Ao pedir à parte que lhe cabe, aquele jovem nega a existência do próprio pai.      
Ele não somente “mata” a figura paterna como reduz o tempo. Mais ainda, o filho mais novo ao requerer o seu direito antecipa o direito do seu irmão: “Então o pai repartiu seus bens entre eles”.
Imersos em uma sociedade capitalista onde as relações humanas são válidas a partir do momento em que você pode me oferecer algo em troca, não ficaria surpreso se nossa relação com Deus se estendesse somente naquilo que Ele pode fazer por mim. E se Deus é fiel somente naquilo pelo que Ele pode fazer por mim, eu sou um mero de um interesseiro. Ed René Kivitz, em seu Talmidim 211, afirma que “se Deus é apenas alguém que lhe dar o que você quer, seu coração está apaixonado não por Deus, mas pelo que você quer”.
Que Deus é Abba; ou melhor, que Deus é Pai, todo mundo sabe. Inclusive, o Evangelho Segundo São João nos afirma que “aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (João 1.12); Posteriormente, Paulo escreve em sua carta à Igreja de Éfeso que Deus “Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo” (Efésios 1.5). Me perdoem os mais interesseiros, mas não é porque somos chamados de filhos de Deus que temos a prerrogativa de reinvidicar parte da nossa herança, parte da nossa "bença" (como muitos dizem). 
O que me espanta, como pai que sou, é justamente o comportamento desse pai, retratado por Jesus nessa parábola. Ele não questiona: “Como assim parte da herança? Eu ainda estou vivo!”; “Com quem?”; “Como?”; “Pra quê?”; “Pra onde vai?”; “Volta quando?”; “Vai fazer o quê com esse dinheiro?”. Essas perguntas que todo pai faz quando o filho é sem juízo. Ele simplesmente acata o pedido. Ele reparte os bens. O desenvolvimento da estória demonstra que o jovem rapaz não soube lhe dar com aquilo que tinha em suas mãos,“ele desperdiçou todos os seus bens vivendo de modo irresponsável” (v.13).
            Esse é o problema de quem adianta o relógio da vida; de quem reinvindica antes do tempo; no calor da emoção, dos impulsos e da euforia de quem acha que pode viver longe do amor do Pai. Não antecipar os “planos de Deus” – como o senso comum da religião evangélica diz – pode nos prevenir de desejarmos comer a mesma comida dos porcos (v.16).
            Deus o abençoe.